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A GERINGONÇA
A “Geringonça” – baptizada assim graças à contribuição lexical do irrevogável submarinista Paulo Portas – é uma solução governativa com apoio parlamentar maioritário, que se apresenta como a única que pode garantir o alcançar de uma justiça social, ainda que minimalista.

Um nível superior deste acordo parlamentar consistira na evolução desta solução para um Governo que integrasse o PCP e o BE. Mas sabemos que tal evolução não é possível dadas as enormes diferenças entre o PS e, principalmente, o PCP.

O PCP e o PS continuam a ser os partidos que sempre foram: um assumindo a defesa dos trabalhadores e do povo contra o capital, armado com uma ideologia marxista-leninista, o outro um partido social-democrata, defendendo uma economia capitalista (eufemisticamente chamada de economia de mercado), com ligações ao mundo da alta finança e comprometido com as estruturas da UE e da NATO, com uma concepção do mundo e das relações geopolíticas completamente contrária à do PCP.

Não obstante estas diferenças abissais entre os dois partidos, foi possível construir esta solução – iniciativa que coube fundamentalmente ao PCP, tem que se reconhecer – que é, repito, a única que possibilita uma certa defesa dos interesses e dos direitos de quem trabalha ou vive de uma pensão.

Também se sabe que quem romper este Acordo, se a conjuntura não se alterar significativamente, fica com o ónus desse rompimento. Não é que estas forças políticas estejam cativas entre si, mas não há dúvida nenhuma que o fim deste Acordo só beneficiava o infractor de sempre: a direita radical. Este é o seguro de vida da “Geringonça”.

Porem, nem tudo vai bem no reino da Dinamarca.

Em tempos Luís Montenegro terá dito que "a vida das pessoas não está melhor mas a do País está muito melhor". Esta afirmação traduz uma impossibilidade, como sabemos.

Nada disso se passa actualmente. Hoje o país está melhor porque as pessoas percepcionam essas melhoras.

Mas o que é um facto é que no nosso quotidiano tropeçamos a todo o momento com situações inadmissíveis e que nos infernizam a vida.

É disso que falaremos nas próximas “notas do quotidiano”.

De pé ó vitimas disto tudo!

Radical é um adjectivo contraditório: os dicionários definem radical como aquele que pretende reformas profundas na organização social mas também aquele que sustenta posições extremistas.
Ainda pode ser entendido como aquele que vai à raiz das matérias.

O verbo radicalizar e a expressão de que este ou aquele se radicalizou aqui ou ali, ou foi radicalizado, entrou no nosso quotidiano a propósito de integrantes de movimentos que praticam o terrorismo, seja ele dito islamita ou não-islamita, seja ele acto individual, de grupo ou de Estado.

Mas para além dos fenómenos terroristas, com todos os seus matizes, a verdade é que as chamadas “sociedades desenvolvidas capitalistas”, por serem perigosas, prepotentes e destruidoras da individualidade, elas próprias promovem em larga escala o radicalismo.

A sua dinâmica em termos económicos, sociais, políticos e religiosos, cria tensões preocupantes levando alguns a defender que, mais cedo ou mais tarde, tais tensões conduzirão necessariamente a formas de violência insurreccional.

De facto, no nosso quotidiano, qual de nós nunca sentiu “uma força a crescer-nos nos dedos e uma raiva a nascer-nos nos dentes”,

Quando:

O Governo que elegeste te mentiu e te tratou como um indigente mental, incumprindo as promessas que te fez e te infernizou a tua triste vidinha;

O mesmo se diga da Junta de Freguesia e Câmara Municipal, que se constata estarem nas tintas para tornarem o sítio onde moras um pouco mais ameno.

A Administração Fiscal, assumindo atitudes de majestades absolutistas, te confiscam os bens que necessitas para ti e para os teus filhos, tantas vezes por uma multa irrisória, perdoando milhões aos poderosos;

As televisões e os jornais te manipulam e te mentem descarada e deliberadamente formatando-te a mente para repetires o que querem que repitas, pensares o que querem e como querem que penses, gostares do que querem que gostes, agires como querem que ajas;

A EDP ou a PT ou quejandas te roubam e te enganam na conta mensal ou te causam prejuízos por corte indevido dos fornecimentos, actos pelos quais nunca são sancionadas;

A Companhia de Seguros te nega os teus direitos invocando cláusulas invisíveis e nunca lidas e de duvidosa legalidade;

A Banca se comporta perante ti como uma organização de agiotas e trapaceiros marginais, protegida pelos poderes instituídos, comendo-te nos juros, nos spreads e nas condições contratuais que te obriga a aceitar e depois, ao mínimo incumprimento, te arrasta para a miséria roubando-te a casa onde habitas com a tua família sem o mínimo de pudor, com a complacência e cumplicidade de poder judicial;

A PSP, escondida e disfarçada, te intercepta numa via onde sabe ser impossível cumprir limites de velocidade e te multa escandalosamente. PSP que nunca está onde é necessária…;

A Entidade Reguladora a quem, diligente e educadamente apresentas queixa sobre o modo como te enganam os tubarões que prestam os serviços básicos e descobres que essas Entidades são meras extensões dessas empresas que prestam esses serviços (Banca, PT, EDP, CTT, Comunicação Social, EPAL, Seguros, Saúde, etc…);

Os Tribunais arrastam o processo que instauraste a um vigarista, burlão ou ao próprio Estado, que te lesaram ou espoliaram, obrigando-te a um calvário de anos a fio à espera de uma decisão judicial que, no final, se revela ou já fora de tempo ou mesmo contra ti, que és o queixoso, obrigando-te a pagar custas processuais escandalosas;

O Hospital te obriga a passar horas infinitas num banco de urgências ou numa simples consulta externa, num local abjecto, e depois te atende como a um cão, causando-te tantas vezes mazelas irreversíveis que depois, despudoradamente, não assume;

O teu patrão abusa da tua ignorância ou passividade e te nega os teus direitos contratuais e de cidadania e descobres que o teu sindicato é amarelo e é cúmplice do patronato;

Os biscateiros a quem entregaste um trabalho te roubam e te enganam sem escrúpulos, agindo com toda a impunidade, recusando até a passagem da factura roubando assim também o erário público;

E tanto que poderíamos acrescentar com igual veracidade.

Até quando isto durará...?

PARA DERROTAR AS IGNOMÍNIAS

Idealmente, todos deveriam ter algo a fazer e a dizer sobre a política e sobre a actividade politica.

A política é obra de todos nós. É a luta de classes.

A actividade politica é a tradução, pelos titulares dos três poderes, dessa luta de classes, com interpretações e assunções consoante o posicionamento nessa luta de classes.  



AINDA SOBRE AS ELEIÇÕES


É legítimo, democrático e constitucional que a coligação governe?

i)A PaF ganhou as eleições.

Mentira. A PaF, coligação de direita radical que se opunha política e eleitoralmente ao PS, à CDU e ao BE, teve menos votos que todos os outros que combateu na campanha eleitoral;

ii)A maioria dos portugueses deu apoio à PaF e prefere a continuação deste Governo e destas políticas

Mentira. Só votaram na PaF 22% dos portugueses inscritos para votar

iii) as eleições foram livres, democráticas e justas

Mentira. Que justeza e democracia existe quando uma das partes, em detrimento de todas as outras:

• tem acesso ilimitado a todos os canais de televisão, jornais, etc;
• dispõem dos comentadores e quejandos dos OCS, que se portam como putas para todo o serviço dizendo o que lhes dizem para dizer;
• se serve do aparelho de estado e dos seus lugares no governo para tomarem medidas obviamente eleitoralistas e manipularem dados da situação económica do país;
• tem as instituições internacionais, designadamente UE, a mandarem recados e a intervirem descaradamente na politica interna a favor dos seus desígnios;
• dispõem de um presidente da república já meio demente, que é um mero serventuário do PPD/CDS, emporcalhando o cargo que ocupa .

Mesmo com todo este arsenal, apenas 22% dos portugueses que se podiam expressar eleitoralmente, lhes deram o voto. Se tivermos em conta o analfabetismo politico, o desinteresse típico do tuga, a predisposição para não exercer os seus direitos e deveres de cidadania, que o principal partido da oposição não inspira confiança, os números eleitorais compreendem-se muito bem.

Afinal foi a comunicação social quem ganhou as eleições e persistem agora em determinar quem vai governar o país. Que javardice!

O fenómeno BE/Catarina Martins

Não podemos ignorar que interessava à direita que o BE tivesse esta retumbante vitória. Isto sem provocações e sem menosprezo das grandes qualidades de comunicação reveladas pelas gentes do Bloco.

A verdade é que quanto mais votos tivesse o BE menos teria a CDU (e o PS).

É claro para todos que os votos entregues ao BE apenas são uteis e importantes no Parlamento, o que já não é pouco, diga-se.

Mas o BE não tem implantação real nas massas. É um partido de elites e de personalidades. Tem uma escassa influência sindical (nos sindicatos operários e de serviços) quando comparado com o PCP.
Não tem autarquias. Não está nas fábricas, nas oficinas, nas colectividades. Ora isto faz toda a diferença nas lutas e nas acções de massas que decerto aí vêm.

Daí que reafirme: para a direita e para o capital, é preferível os votos estarem no BE do que no PCP. É óbvio.

E só assim se compreende toda a dedicação, elogios, apoio e tempo de antena que o BE/Catarina Martins/irmãs Mortágua dispuseram. E claro, tudo isto foi aceite conscientemente não se podendo criticar o BE dessa aceitação.

Mas que não se iluda o Bloco: todos estes votos são flutuantes. Já aconteceu o mesmo em anteriores eleições e posteriormente o BE caiu de novo para metade dos deputados.

A derrota do PS

O PS foi o verdadeiro perdedor destas eleições legislativas de 2015. Os resultados obtidos vão ter um enorme impacto no interior do PS e na situação do país e dos trabalhadores.

Ao PS está colocado com mais dramatismo que nunca o velho dilema: ou segue a tradição de trair a esquerda, trair a esperança legítima dos portugueses que desejam viver com dignidade, ou, finalmente, procura entendimentos à esquerda e adopta um programa de governo compatível com esses entendimentos.

Não se sabe se por cobardia ou se para salvar a pele, a verdade é que logo na noite eleitoral António Costa quis entregar-se nas mãos daqueles que nos chupam até ao tutano e que o mesmo António Costa horas antes jurava que nunca apoiaria nem viabilizaria. Imagina-se os telefonemas oriundos do lado de lá da fronteira, e do lado de cá, que foram recebidos nos andares cimeiros do quartel-general da candidatura do PS…

Para adoçar a entrega, invoca-se o costume: a governabilidade, a estabilidade, a responsabilidade, etc e tal.

Mas mesmo assim, não é garantido que Costa tenha salvado a pele.

O sector direitista do PS vai querer sangue.

E já estão a demonstrá-lo: para já, conseguiram retirar o apoio do PS a um candidato à presidência da república de que sabem ter simpatias com a esquerda e apoiar uma candidata sem perfil e sem hipóteses de congregar apoios das outras formações da esquerda.

Isto é, preferem oferecer a presidência à direita destronando o candidato António Sampaio da Nóvoa. (a fórmula “não apoiar ninguém à primeira volta” é uma vigarice politica, porque Maria de Belém, estando dentro do partido, naturalmente beneficiará automaticamente desses apoios)

A fase seguinte é elegerem outro secretário-geral se este não servir os seus intentos ( Álvaro Beleza e outros já o disseram), que são: alcançarem um presidente da república da direita, um governo do bloco central com políticas de direita e uma maioria parlamentar do grande centrão.

Ou seja, a mais vil e completa traição aos portugueses que vivem dos rendimentos do trabalho e das pensões, muitos deles votantes do PS (que se deviam organizar e não permitir estes desmandos a esta gente).

Tudo isto vai ainda ser agravado tendo em conta as previsões de fraco crescimento económico que se vai verificar na Europa e em Portugal, com todas as consequências sociais e politicas que daí advém.

É neste quadro complexo que se vai desenvolver a luta dos próximos tempos.

O papel do PCP

O PCP tem estado sempre presente na direcção dessas lutas, mas a conversão dessa postura não se tem traduzido no aumento significativo da sua influência parlamentar.

Talvez também o PCP deva passar por algumas mudanças sempre difíceis e discutir a sério a sua organização interna, a sua liderança, os seus métodos de actuação, a formação dos seus quadros dirigentes, as suas relações internacionais, os seus paradigmas, sendo que o mais pernicioso é actuar-se como se o Partido fosse um fim e não um meio.

Tudo em causa menos a sua ideologia marxista-leninista. É isso que lhe dá autenticidade e confiabilidade. É isso que o torna um partido ainda não contaminado. Mas é preciso agir.

VAMOS DAR O OURO AOS BANDIDOS


A História constitui um rico filão de soluções para o Futuro.

Os grandes acontecimentos verificados em Portugal desde finais do século XIX até a actualidade, demonstram que a Esquerda, nas suas várias matizes, teve grandes responsabilidades nas trágicas derrotas das classes exploradas:

Lembremo-nos das posições da Esquerda de então sobre a entrada na Primeira Grande Guerra, a guerra dos velhos Impérios.

Lembremo-nos das posições dúbias de certa Esquerda no derrube da Monarquia e implantação da República

Lembremo-nos do que foi a intensa luta do operariado e da pequena burguesia da cidade e dos campos durante a 1ª Republica e das intrigas e traições de algumas correntes republicanas, que se reivindicavam da Esquerda, que culminaram com o surgimento do fascismo.

Lembremo-nos dos grandes conflitos do seculo XX: A Segunda Guerra Mundial e o decisivo contributo do Exercito Vermelho na derrota do nazismo, a Guerra de Espanha dos horrores do fascismo/nazismo. Também aqui a Esquerda se dividiu e em acontecimentos de tal grandeza, ocuparam trincheiras diferentes.

Lembremo-nos das posições de alguns grupos e personalidades de Esquerda e das divisões cavadas que têm a sua responsabilidade histórica no atraso da derrota do fascismo.

Lembremo-nos – foi há tão pouco tempo! – do papel pernicioso de certas forças que se arrumam à

Esquerda na tremenda luta de classes ocorrida nos últimos 40 anos da nossa vida, culminando com a acção devastadora dos legítimos direitos e interesses de quem vive dos rendimentos do trabalho ou de pensões pelo actual governo de Passos e Portas.

No próximo domingo dia 4 de Outubro de 2015 veremos se será mais uma daquelas datas que, como as anteriores, ficarão gravadas na nossa triste memória ou se pelo contrário, será uma alvorada para de um tempo novo, verdadeiramente democrático, com um GOVERNO DAS ESQUERDAS, para a implementação de POLITICAS DAS ESQUERDAS, composto por HOMENS E MULHERES DAS ESQUERDAS.

Bem pode vir o PS argumentar que o PCP e o BE são contra o Tratado Orçamental, contra a nossa permanência no Euro e na UE, contra a Nato, que exigem uma reestruturação radical da dívida pública externa e correcções imediatas e integrais das malfeitorias do governo fantoche PSD/CDS, etc.

Bem podem o PCP e o BE virem argumentar em sentido contrário afirmando que o PS sempre preferiu governar à direita, que no fundamental não se distingue da coligação da direita radical PaF, que foi o PS que com os seus PEC´s mais prejudicou o Trabalho favorecendo o Capital, etc.

É um imperativo patriótico travar-se o avanço da besta capitalista neoliberal, destruidora das nossas vidas.

O Povo, os trabalhadores, os pensionistas e aposentados, os pequenos e médios empresários, os jovens, os que emigraram, todos os desempregados assim o exigem!

Será alta traição de quem quer que seja não viabilizar esta solução governativa, mesmo que possam invocar reais e importantes obstáculos.

Têm a estrita obrigação de os ultrapassar!

É que tal solução é a ÚNICA que pode de facto salvar este pobre país das garras da vampiragem.

Como está provado ao longo dos últimos 40 anos.

A Esquerda vencerá!

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE MAS NA POLITICA HÁ ÓBVIAS PREVISIBILIDADES

Eis um texto escrito aqui no Blogue em Março de 2011. Quase tudo se passou como o previsto.

O discurso de posse do Presidente da Republica Portuguesa na Assembleia da República foi uma jogada arriscada e não se pautou exclusivamente pelo interesse nacional.

Num momento e num local tão solene, perante a Nação, Cavaco Silva não hesitou em abrir ostensivamente as hostilidades, sabendo claramente os danos que, potencialmente, poderá vir a provocar.

Foi decerto muito importante para a estratégia já delineada e para os objectivos que pretende alcançar neste seu último mandato, dizer o que disse naquela tão especial circunstância.
 
Note-se que na campanha eleitoral, espaço apropriado para o pleito político mais arrojado, Cavaco Silva nunca se pronunciou – como o fez na tomada de posse – sobre as questões consideradas polémicas (grandes investimentos, políticos da virtualidade, incitamento ao protesto, injustiça na distribuição dos sacrifícios, má gestão governativa…)  

Então impõe-se saber as verdadeiras razões deste arrasador discurso.

Tratar-se-á de um simples desejo de vingança provocado por tudo o que aconteceu na campanha eleitoral? Claro que não! Seria um acto demasiado primário.

É obvio que Cavaco Silva quis marcar uma posição

E não apenas a posição de que desta vez vai ser um Presidente adoptando uma “… magistratura activa e firmemente empenhada na salvaguarda dos superiores interesses nacionais...”.

Cavaco quis também demonstrar que é o chefe (transitório) da oposição da direita ao Governo, por insuficiências do seu PSD.

O grande objectivo politico estratégico de Cavaco Silva é trazer o PSD (com ou sem CDS) para a governação e, com ele na Presidência, submeter o País a uma exploração férrea, arrasando com tudo o que faça lembrar direitos laborais ou sociais, subverter a Constituição e alterar os fundamentos do regime democrático, tal como hoje o entendemos, instituindo uma democracia orgânica com a alienação dos mais básicos direitos de cidadania.

Aliás, já há por aí quem use abertamente as expressões: o regime falhou, ou o modelo está esgotado, ou o sistema político tem que mudar

O plano parece claro e está imposto por quem verdadeiramente manda: o grande capital financeiro, os grandes grupos económicos e os grandes empresários nacionais e internacionais.

Mas Cavaco Silva tem ainda outro problema para resolver, mais tarde ou mais cedo: esse problema é a substituição da actual liderança do PSD!

Pedro Passos Coelho é visto pelos cavaquistas e principalmente por Cavaco, como um imberbe político sem fibra nem preparação politica para, eventualmente, assumir o importante cargo de primeiro-ministro, principalmente nesta dura fase.

Cavaco abomina figuras sem densidade politica, playboys da política como Santana Lopes. E não esqueçamos que Manuela Ferreira Leite vetou o nome de PPC nas listas de candidatos a deputados…

Será à luz desta estratégia que se deve olhar com muita atenção para as recentes e futuras movimentações de Rui Rio, única alternativa credível que se vislumbra no horizonte, do agrado dos cavaquistas e de Cavaco.

É este o sentido do discurso de Cavaco Silva.

Como disse Jerónimo de Sousa, “…o Presidente veio aqui à AR tomar partido pelo seu partido…”.

E deveria ter acrescentado: utilizando verdades sobre a situação do país para esconder as suas verdadeiras intenções.

Conseguirá Cavaco Silva, o Presidente e militante do PSD lograr os seus intentos?

Depende da força anímica e da noção de responsabilidade dos partidos da Esquerda.

Demagogias e discursos formatados à parte, tem que se dizer que o PS de Sócrates serviu na perfeição os interesses e os desígnios da alta finança e do grande capital, com grande prejuízo para o País, para os trabalhadores e para todos os que vivem dos seus parcos rendimentos.

Até agora.

E no futuro?

O PS oferecerá condições para Sócrates continuar a ser o fiel serventuário da senhora Merkel, executor acrítico das políticas ultraliberais do directório franco-alemão, ou a ala esquerda do PS – seja lá isso o que for – rebela-se e complica as coisas? 

Um PSD com uma nova e forte liderança (Rui Rio) seria ouro sobre azul!
Mas, por ora, o PSD e Cavaco vão ter de se contentar com o aprendiz de feiticeiro. 

Entretanto, a Esquerda continua a sofrer do seu pecado original: uma profunda incapacidade para construir uma plataforma mínima de actuação e surgir como uma verdadeira alternativa aos olhos dos portugueses.

Não estarão assim a dar o ouro aos bandidos...?

 

OS “COLABORADORES”

 
O termo Colaboradores surge com a consolidação da ideologia neoliberal à escala global e é usado em vários tipos de organizações – empresas, organismos do Estado, associações patronais e até em Ordens profissionais e alguns “sindicatos” – para se referirem aos trabalhadores.


No pós-guerra, com a derrota do nazi-fascismo, alguns povos conquistarem ao capitalismo um forte estado social, conquista que foi sendo admitida pelo capital como contraponto dos ventos sopravam de Leste e que galvanizavam os povos de uma Europa exaurida e traumatizada, que desesperadamente precisava de esperança.

Entretanto a correlação de forças foi-se alterando e com o advento do neoliberalismo, parido de uma das cíclicas crises do capitalismo, a classe operária, os trabalhadores, os povos, têm pago com sangue suor e lágrimas a perfídia dos grandes impérios financeiros e dos seus representantes políticos, já sem um forte bloco que antagonize o capitalismo. 

O neoliberalismo dá assim largas ao festim: a corrupção impera, generalizam o desemprego, precarizam o trabalho, obrigam a baixos salários, privatizam toda a economia entregando tudo o que dá lucro aos capitalistas, vão destruindo os sistemas de segurança social, saúde e ensino público, aumentam intoleravelmente as diferenças sociais semeando a pobreza e a miséria e tratam de transferir toda a riqueza produzida para as mãos do capital através de políticas fiscais e orçamentais.

Neste contexto, para as hordas neoliberais, a palavra “trabalhadores” é uma palavra maldita, que eles associam a “luta”, “sindicatos”, “democracia”, “cidadania”, “direitos”, “greve” “liberdade” etc… Sacam logo da pistola quando ouvem tais palavras.

No seio das empresas, a defesa do capital, representado nos interesses dos grandes accionistas e sócios, passa por negar o papel central do trabalho enquanto verdadeiro criador material da riqueza. Ou seja, invertem-se os papéis: o capital é apresentado como um factor determinante e por isso é remunerado com a parte de leão, enquanto o trabalho é meramente acessório e substituível, podendo pagar-se com os míseros trocos. Os trabalhadores são classificados como recursos integrados no aparelho produtivo. E quanto menos direitos e salários usufruírem, melhor. O que importa é reduzir o custo unitário do trabalho e tornar dócil a mão-de-obra contratada.   

Esta crise do capitalismo – que é disso que se trata – fez explodir o quadro das relações de trabalho, criando as melhores condições para uma intensificação da exploração: Gerou, como esperavam, altas taxas de desemprego, o que teve um impacto negativo brutal nos níveis médios dos salários e outras remunerações e alterou significativamente as relações jus-laborais, que facilitam a violação sistemática dos direitos e interesses dos trabalhadores, independentemente do seu posicionamento e qualificação. A arbitrariedade, os abusos e a violação da lei ocorre todos os dias, quer por parte do governo quer por parte do patronato e com a complacência, ou mesmo cumplicidade, de certas personalidades e organizações “sindicais”,

Num ambiente de completa desregulamentação das leis laborais e das condições da prestação de trabalho, entende-se melhor o significado do termo Colaboradores.

É assim necessário difundir e consolidar a ideia de que os trabalhadores são parceiros facilmente substituíveis, conjunturais e são externos à própria empresa.

No próprio conceito actual de remuneração, essa ideia está patente quando se generalizam as remunerações variáveis - legitimadas pelos famigerados sistemas de avaliação de desempenho - como instrumento não só de redução dos custos do trabalho mas também para dar esse caracter de transitoriedade ao trabalho e ao trabalhador.

Por outro lado, em muitas empresas que conhecemos que se apresentam como modelos de responsabilidade social e que cantam loas ao diálogo e a concertação, ao invés de se fomentar um modelo de relações laborais baseado no reconhecimento dos direitos e deveres das partes, na participação de todos no projecto da empresa, na divisão equilibrada da riqueza produzida e numa efectiva responsabilização social, disseminam o medo, exercem a chantagem, subvertem o valor do trabalho e perseguem aqueles que ousam exercer os mais básicos direitos de cidadania previstos na lei e constitucionalmente consagrados.

Esta cultura empresarial, que pode não ser generalizada mas é mais comum do que possamos imaginar, produziu diligentes kapos prontos a tudo no posto onde os mandantes os colocam.

As reestruturações de certas empresas que têm vindo a ser operadas nos últimos anos, já visavam a implementação desta cultura quando atiraram borda fora milhares de trabalhadores no auge das suas carreiras profissionais, mas que estavam “impregnados de sindicalismo” e não eram dóceis. Tinham alguma consciência política e de classe.
O termo Colaboradores não é assim um termo da moda, inofensivo e inócuo, mas, ao contrário, é usado pela classe dominante com uma forte carga politico-ideológica e com um sentido de apartheid.
Este termo é uma emanação do capitalismo, da direita política e da social-democracia.
São estes os responsáveis por o trabalho se ter transformado numa fonte de exploração, de conflitos, de frustrações e de mal-estar físico e psicológico e não como deveria ser, um factor de realização multidimensional do Homem.

Querem negar a luta de classes, mas ela aí está a demolir a tese da comunhão de interesses e da conciliação Capital/Trabalho, supremo sonho do neoliberalismo e dos seus serventuários e supremo embuste para os trabalhadores, que sabem, de experiência feita, que só com a luta se derrotam os desígnios e as iniquidades do sistema capitalista.